segunda-feira, 28 de março de 2011

Primeiras Estradas - No Mundo


Evolução histórica
Pesquisas arqueológicas mostram que as primeiras estradas foram construídas a partir de trilhas usadas por povos pré-históricos e se localizaram no sudoeste da Ásia, numa ampla área delimitada pelo mar Negro, Cáspio, Mediterrâneo e o golfo Pérsico. As pessoas migravam para leste, oeste, norte e sul a partir dessa área e certamente reconheceram, nas primeiras viagens, a necessidade de melhorar os caminhos para facilitar o movimento de seus animais de tração, o que tornou possíveis as primeiras transações comerciais. Na construção das primeiras rodovias artificiais, provavelmente o terreno alto foi nivelado, os buracos e reentrâncias foram preenchidos e a terra retirada das bordas para formar valas laterais que permitissem a drenagem.
O começo da construção de rodovias coincide com o surgimento dos primeiros veículos de rodas, que provavelmente foram fabricados numa ampla área que se estende do norte do mar Negro ao mar Cáspio e à ponta superior do golfo Pérsico. Arqueólogos encontraram na Anatólia restos de veículos de duas rodas que datam de 3000 a.C., feitos pelos sumérios com a madeira abundante das florestas do Cáucaso. Por volta de 2400 a.C., já eram fabricados carros de quatro rodas, também na região do Cáucaso.
Durante a idade do bronze, a evolução das técnicas da agricultura e do comércio e a domesticação do cavalo marcaram o princípio da civilização. Para crescer, o comércio exigiu estradas melhores. Os habitantes da região da Mesopotâmia aperfeiçoaram a técnica de construção e criaram uma rota comercial, por volta do ano 700 a.C., que unia o império da Babilônia ao Egito. Estradas pavimentadas com pedras e ladrilhos unidos com argamassa betuminosa ligavam os templos e palácios das antigas cidades de Assur e Babilônia. Essas estradas, embora não servissem às necessidades normais do tráfego de caravanas comerciais, possivelmente inspiraram o sistema rodoviário romano.

Estrada real da Pérsia
A mais antiga de que se tem registro, a estrada real da Pérsia é contemporânea dos primeiros veículos de rodas, surgidos por volta do ano 3000 a.C. Ligava as civilizações da Mesopotâmia e do Egito e estendia-se do golfo Pérsico ao mar Egeu, num percurso de 2.857km que unia a Pérsia à Turquia, Grécia e Egito. Foi o primeiro grande sistema de rodovias, formado de estradas que se interligavam, criavam grandes centros de caravanas e permitiam intensa troca comercial entre regiões distantes.
Rotas do âmbar. As primeiras estradas européias conhecidas são as "rotas do âmbar", usadas provavelmente entre os anos de 1900 e 300 a.C. por comerciantes etruscos e gregos para transportar âmbar e metais do norte da Europa a diversos pontos do litoral do Mediterrâneo e do Adriático. Ligavam a Grécia e a Toscana, na Itália, ao mar Báltico por um conjunto de rotas e ramificações em diversas direções e que alcançavam os mais distantes centros comerciais. De modo geral, seguiam um curso paralelo aos dos grandes rios e lagos da região nordeste da Europa. Na construção de diversos trechos, como indicam vestígios encontrados nos Países Baixos, Alemanha, Polônia, Letônia, Suécia e Rússia, foram usadas toras de madeira dispostas sobre camadas de galhos e cobertas com uma mistura de areia e cascalho. Em algumas delas, valas laterais permitiam a drenagem da água das chuvas.

Rota da seda
O antigo sistema rodoviário da China imperial, contemporâneo ao da estrada real da Pérsia, destacou-se pela importância comercial e a extensão das estradas que se interligavam. Representou no sudeste da Ásia papel semelhante ao que tiveram as estradas romanas na Europa e na Anatólia. Muitas estradas chinesas eram largas, bem construídas e pavimentadas com pedras. Os rios eram atravessados por pontes ou barcas bem administradas e os trechos mais íngremes das montanhas dotados de degraus largos. A manutenção, porém, era irregular e logo as estradas perdiam a qualidade inicial. O sistema, com aproximadamente 3.200km de extensão total, ligava as principais cidades do império.
A estrada comercial da China à Anatólia e à Índia, conhecida como "rota da seda", tinha uma existência de aproximadamente 1400 anos na época das viagens de Marco Polo, por volta de 1270 a 1290 da era cristã, que coincidiu com sua fase mais importante. Nesse período, o sistema chinês ligou-se ao romano, que se espalhava por toda a Europa, e a rede completa se estendeu por 12.800km, ligando Xangai, na China, a Cádiz, na Espanha. Por mais de dois mil anos foi a mais extensa estrada da Terra e seus usuários mais freqüentes, especialmente em seu apogeu, nos séculos II e III da era cristã, eram comerciantes de sedas, jóias e especiarias do Oriente. Com a queda do Império Romano, os constantes ataques de mongóis e outros povos nômades tornaram impraticável seu uso.

Estradas romanas
Com os romanos, a engenharia rodoviária atingiu o ponto máximo de eficiência e aprimoramento tecnológico da antiguidade. As estradas tinham a função dupla de conquistar territórios e preservá-los. No auge do poder de Roma, foram construídos perto de 85.000km de estradas que ligavam a capital às fronteiras mais distantes do império. Irradiavam de Roma 29 grandes estradas militares, das quais a mais conhecida é a via Ápia, que se estendia por 660km. Há divergências sobre a origem dos métodos romanos de construção de estradas, mas é consenso que seus principais mestres foram etruscos do norte da Itália. Os romanos incorporaram também técnicas aprendidas de diversos outros povos, como os cartagineses, fenícios e egípcios.
As estradas romanas se caracterizavam pela solidez da construção e o traçado reto, independentemente do obstáculo que tivessem que superar. Foram construídas sobre pantanais, lagos, vales e montanhas e, por sua concepção audaciosa, despertaram a admiração dos engenheiros modernos. Modernamente, sua construção seria economicamente inviável.
A largura de uma estrada comum variava entre 2,5 e 4m -- a via Ápia chega a ter dez metros de largura em certos trechos -- e a espessura do revestimento ficava entre 1 e 1,5m, com camadas superpostas de pedra. Empregavam pedras largas e chatas na camada inferior e outras cada vez menores nas camadas subseqüentes, unidas por argamassa. Depois de dois mil anos, muitos trechos das estradas romanas continuam transitáveis.

Decadência do sistema rodoviário
No auge do Império Romano, o comércio pelas rodovias ligava as culturas da Europa, norte da África, Anatólia, China e Índia. Mas esse sistema dependia dos impérios, principalmente o romano e, com seu declínio a partir do século IV da era cristã, as rotas comerciais tornaram-se os caminhos de invasão. Praticamente todas as redes rodoviárias sofreram um processo irreversível de decadência. Por volta do século XII, renasceu o interesse pela construção e manutenção das estradas, especialmente na Europa, mas a peste negra do século XIV e as contínuas guerras entre principados interromperam novamente o processo.

Estradas incas
O período de decadência do sistema rodoviário das antigas civilizações mediterrâneas e asiáticas coincidiu com o surgimento e o auge de outro império de notáveis construtores de estradas: o império dos incas. Muito antes da chegada do europeu ao continente americano, os incas tinham construído um extraordinário sistema de estradas que ligava Quito, no Equador, a diversos pontos ao sul de Cuzco, no Peru. Consistia de duas estradas paralelas, uma ao longo do litoral, com aproximadamente 3.600km de extensão, e outra que acompanhava os Andes por cerca de 2.640km, cada uma delas com diversos cruzamentos e conexões. No apogeu do império, quando os espanhóis desembarcaram na América do Sul, no começo do século XVI, o sistema rodoviário atendia a uma área de quase dois milhões de quilômetros quadrados, onde viviam perto de dez milhões de pessoas. Parte do sistema original inca ainda é usado até hoje.
A rota dos Andes tinha características notáveis. A estrada de 7,5m de largura cruzava os mais altos pontos com cortes e rampas suaves. Incluía galerias cortadas na rocha compacta e muros de contenção de dezenas de metros para servir de apoio à estrada. Abismos e desfiladeiros eram vencidos com construções sólidas de pedra e alvenaria. Pontes pênseis, feitas com cabos de madeira ou fibra, atravessavam os mais largos rios entre as montanhas. A superfície era de pedra na maior parte da estrada e materiais asfálticos foram usados com abundância. As subidas mais íngremes eram feitas por escadas cortadas na rocha. O tráfego consistia inteiramente de animais de carga (lhamas) e pessoas a pé, já que os incas não conheciam o uso da roda. É interessante notar que as estradas incas têm diversos pontos em comum com as chinesas, o que pode indicar uma influência cultural direta.




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